terça-feira, 23 de junho de 2009

CRECHE FRANCESCA ZACARO FARACO

Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de Educação
Licenciatura em Pedagogia
Disciplina: EDU 01052 – História e Educação I
Professora: Simone Valdete
Alunas:Carla Giovana da Silva, Gabriela Maestri, Sabrina Flores.

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa teve como finalidade levantar o histórico da Creche Francesca Zacaro Faraco, conhecida como creche da UFRGS, focando principalmente o contexto de sua criação. Procuramos nesse trabalho fazer uma breve apresentação sobre a educação infantil no Brasil, bem como o período em que vivia e as legislações a cerca da educação no período de inauguração da creche aqui citada. Os encaminhamentos metodológicos utilizados para a realização da pesquisa foram: visita a creche; pesquisa em documentos da instituição e outras fontes.

CONTEXTO HISTÓRICO E EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL

Em 1967 foi criada, no Governo Costa e Silva, a Constituição Federal de 1967. Após, em 1971, durante o governo Médici, foi criada a Lei 5.692/71, que tratava da Diretrizes Curriculares da Educação Nacional. A Creche da UFRGS (Francesca Zacaro Faraco) foi criada durante o Governo Médici (novembro de 1969 a março de 1974).
• Ditadura militar (1964-1985)
As intervenções militares foram recorrentes na história da república brasileira. Antes de 1964, porém, nenhuma dessas interferências resultou num governo presidido por militares. Em março de 1964, contudo, os militares assumiram o poder por meio de um golpe e governaram o país nos 21 anos seguintes, instalando um regime ditatorial.
A ditadura restringiu o exercício da cidadania e reprimiu com violência todos os movimentos de oposição. No que se refere à economia, o governo colocou em prática um projeto desenvolvimentista que produziu resultados bastante contraditórios, tendo em vista que o país ingressou numa fase de industrialização e crescimento econômico acelerados, sem beneficiar, porém, a maioria da população, em particular a classe trabalhadora.
O general Emílio Garrastazu Médici dispôs de um amplo aparato de repressão policial-militar e de inúmeras leis de exceção, sendo que a mais rigorosa era o AI-5. Por esse motivo, seu mandato presidencial ficou marcado como o mais repressivo do período da ditadura. Exílios, prisões, torturas e desaparecimentos de cidadãos fizeram parte do cotidiano de violência repressiva imposta à sociedade.
Siglas como Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e Doi-Codi (Destacamento de Operações e Informações-Centro de Operações de Defesa Interna) ficaram conhecidas pela brutal repressão policial-militar. Com a censura, todas as formas de manifestações artísticas e culturais sofreram restrições. No final do governo Médici, as organizações de luta armada foram dizimadas.
Na área econômica, o governo colheu os frutos do chamado "milagre econômico", que representou a fase áurea de desenvolvimento do país, obtido por meio da captação de enormes recursos e de financiamentos externos. Todos esses recursos foram investidos em infra-estrutura: estradas, portos, hidrelétricas, rodovias e ferrovias expandiram-se e serviram como base de sustentação do vigoroso crescimento econômico. O PIB (Produto Interno Bruto) chegou a crescer 12% ao ano e milhões de empregos foram gerados.
A curto e médio prazo, esse modelo de desenvolvimento beneficiou a economia, mas a longo prazo o país acumulou uma dívida externa cujo pagamento (somente dos juros) bloqueou a capacidade de investimento do Estado. A estabilidade política e econômica obtida no governo Médici permitiu que o próprio presidente escolhesse seu sucessor: o general Ernesto Geisel foi designado para ocupar a Presidência da República.


Oficialmente, a pré-escola, como era chamada, esteve mais atrelada à área de saúde, da qual se originou e, posteriormente, à assistência social do que à educação.

É importante ressaltar que, do ponto de vista legal, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 4024/61, pela primeira vez, foram dedicados dois artigos à Educação Pré–Escolar. No entanto, uma vez mais o Estado se omitiu à sua responsabilidade, estimulando a iniciativa privada a atuar nesse setor.


CRECHE FRANCESCA ZACARO FARACO
A Creche Francesca Zacaro Faraco foi criada em 19 de maio de 1972, na gestão do 11° Reitor da Universidade, Professor Eduardo Faraco (5/1968 - 5/1972). Vale destacar que a década de 70 foi marcada por acirradas lutas das trabalhadoras reivindicando atendimento às crianças de zero a seis anos. Na UFRGS, este processo foi carreado, principalmente, pelas trabalhadoras e estudantes da área de enfermagem, o que justifica a instalação desta escola infantil no campus da saúde. A creche foi planejada para atender crianças de até 0 a 1 ano de idade, filhos de mães funcionárias, professoras e estudantes. No primeiro ano eram oferecidas 50 vagas e para a admissão da criança, além da idade era necessário que fosse normal e sadia. Caso o número de inscritos fosse superior ao de vagas era feita uma seleção. Nesta, além dos requisitos de saúde era considerada a condição sócio econômica. As crianças eram divididas em quatro berçários de acordo com a faixa etária e cada cinco crianças ficavam sob responsabilidade de atendente. Essa deveria transmitir afeto e segurança para que o bebê não tivesse um rompimento da normalidade do lar. A atendente era responsável pela alimentação, higiene e recreação. Todas essas atividades deveriam ter carinho permanente, palavras afetivas. A Creche era vinculada a Pró-Reitoria da Comunidade Universitária (PRUNI).
ALGUNS ACONTECIMENTOS IMPORTANTES:
- 1988: atendimento foi ampliado para a faixa etária de até quatro anos. Houve contratação de profissionais com formação específica, como pedagogos e psicólogos.
- 1991: a Creche foi novamente ampliada, passando a atender também crianças na faixa etária de quatro a seis anos.
- 1993/94 A Direção posterior foi a primeira escolhida de forma democrática pelos pais e funcionários, havendo uma preocupação por parte da comunidade de que os candidatos tivessem formação em Pedagogia, a fim de garantir o caráter pedagógico do trabalho junto às crianças. Nessa gestão, o trabalho pedagógico foi fundamentado principalmente na teoria de Jean Piaget, sendo adotada uma proposta construtivista. Tendo em vista as alterações na Constituição, a Creche passou a atender também os filhos de servidores homens, deixando de receber filhos de alunas.
- 1995/97 : A creche passou a fazer parte da PRORHESC (Pró-Reitoria de Recursos Humanos e Serviços à Comunidade). Foi aprovado o Regimento Interno e implementado o Conselho Diretor, formado por pais, funcionários e direção, o qual passou a deliberar e normatizar questões de natureza política e administrativa da instituição.
- 2001/2005: Neste período foi concluída a proposta pedagógica e a Creche passou a ser vinculada à Pró-Reitoria de Ensino, através da Coordenadoria de Educação Básica e Profissional.
ATUALMENTE:
A instituição destina-se a filhos ou dependentes legais de servidores, ocupantes de cargo público ativo da UFRGS, na faixa de 0 a 5 anos. Atende cerca de 120 crianças. A seleção às vagas ocorre mediante avaliação sócio – econômica e entrevista, conforme edital publicado a partir do mês de novembro, onde constam as vagas para cada turma. As turmas estão organizadas de acordo com a faixa etária e têm as seguintes designações: Berçário, Maternalzinho, Maternal 1, Maternal 2, Jardim A e Jardim B. São oferecidas aulas de educação física três vezes por semana para cada turma, com duração de 45 minutos cada, sendo uma vez no turno da manhã e duas no período da tarde. A escola conta com direção e vice-direção e os seguintes setores: administrativo, pedagógico, saúde, psicológico e nutrição. Quanto ao aspecto físico, a creche possui: 3 pátios externos, oito salas de aula, sala da direção, da coordenação pedagógica, de atividades múltiplas, de vídeo, de amamentação, dois banheiros infantis, ludoteca, secretária, recepção, refeitório, cozinha lactário, lavanderia, setor de nutrição e vestiário .

Reflexões:
Durante a realização desta pesquisa pudemos aprender mais sobre as a educação infantil no Brasil bem como acompanhar a história da creche Francesca Zacaro Faraco. Fomos capazes de perceber que durante 36 anos de existência a creche passou por diversas transformações tanto físicas como pedagógicas, assim como a própria educação no país.

REFERÊNCIAS:

Documento datilografado em 1973 pela instituição.
http://www.ufrgs.br/creche/javascript:void(0)
http://www.unificado.com.br/calendario/12/ai5.htm
http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/historia-regime-militar.jhtm

segunda-feira, 22 de junho de 2009

OS IDEAIS EDUCACIONAIS DA REVOLUÇÃO FARROUPILHA

Gláucia R. Justo, Juliana Mesomo e Tiago Cortinaz

INTRODUÇÃO

Este exercício de pesquisa, realizado no marco da disciplina História da Educação no Brasil, tem como objetivo investigar, nos registros e documentos sobre o período da República Rio-Grandense (de 1835 a 1846), quais eram os ideais e projetos do grupo de pensadores e militares que levaram adiante a Revolução Farroupilha. Neste período a Província de São Pedro, atual estado do Rio Grande do Sul, esteve separada do Império brasileiro, proclamando ideais liberais e modernizadores, em contraposição às políticas e discursos da Monarquia brasileira, tida pelos revolucionários como opressora e atrasada.
As fontes consultadas foram bibliografia sobre o tema, como o livro “A Instrução Pública no Rio Grande do Sul (1770-1889)” e artigos sobre a educação pública no período revolucionário, além de consultas aos Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul e ao próprio acervo do Arquivo (no compêndio conhecido como “Coleção Varela”, onde constam documentos, cartas e artigos do jornal “O Povo”, que é importante por ser um dos diários oficiais da República Rio-grandense, onde foram difundidos os princípios dos farroupilhas e os atos do governo.

A SITUAÇÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA NA PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO

Com os jesuítas e suas escolas expulsos do Império brasileiro, A lei de 06 de novembro de 1772 cria escolas para o reino português e seus domínios, porém não inclui a Província de São Pedro. Iniciado o Primeiro Reinado, Dom Pedro, toma várias medidas em relação à Instrução: em 1823 decreta a reforma do ensino primário, estabelece a criação de uma escola de primeiras letras na Corte, onde se ensina pelo método Lancaster, ou mútuo. A Constituição de 1824 assegurava a gratuidade da instrução primária a todos os cidadãos e outra lei, que abrangia todo o país, em 1827, determinava que em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos haveria escolas de primeiras letras que fossem necessárias.
A Instrução Pública na Província estava em total atraso quando, por grandes descontentamentos, eclode o movimento revolucionário liberal, chamado “Farroupilha”. Havia, porém, no começo da década de 30, um grande interesse da Província em promover o desenvolvimento da educação na região, com algumas medidas tomadas, como contratação de professores e criação de aulas. Porém, os recursos e materiais humanos necessários eram escassos, quase inexistentes. Em 1834, através da Lei 16 do Império, de 12 de agosto, dá-se a descentralização do ensino primário e secundário, que é remetido à iniciativa das províncias, mas não há medidas paralelas quanto ao provimento de recursos, ficando essas decisões à cargo das administrações provinciais.
Com o advento do período revolucionário, iniciado em 1835, dois governos se constituem, um imperial e outro republicano, tendo ambos tomado medidas com relação à instrução do povo. Como veremos, o governo Republicano não se limitou a apenas manifestar premissas e decretar modelos amplos quanto ao sistema educacional, mas tomou medidas práticas, incentivando a promoção da educação.

CONJUNTURA

A Revolução Farroupilha está inserida dentro dos movimentos liberais que estão ocorrendo no Brasil e em toda a América, com as independências das antigas Colônias Espanholas se consolidando e inspirados pela influências do ideário europeu de esclarecimento, igualdade, liberdade, disseminado pelo triunfo da Revolução Francesa.
As elites rio-grandenses estavam descontentes com o Império há longa data, por várias questões, devido a todos os conflitos no Prata, os Imperiais usavam o maior contingente da província de São Pedro, sendo que os gastos ficavam, na maioria das vezes, por conta dos comandantes locais. Os produtores eram fortemente taxados, havia o imposto sobre a carne, o couro, o charque e a légua de campo, atingindo toda a elite local e aumentando o descontentamento.

Devido a esses descontentamentos e a crescentes tensões, no dia 20 de setembro de 1835, eclodiu a Revolução Farroupilha, que não era inicialmente separatista, somente se
desligando do Império e proclamando a República Rio-grandense no dia 11 de setembro de 1836, pelo então Coronel Antonio de Souza Neto, sendo eleito para presidente o Coronel Bento Gonçalves da Silva. O primeiro ato do presidente foi organizar provisoriamente as Secretarias de Estado (a do Interior, da Fazenda, do Exterior, da Guerra e da Marinha) e passou a tomar providências para o desenvolvimento da vida rio-grandense.

OS IDEAIS EDUCACIONAIS DOS REVOLUCIONÁRIOS FARROUPILHAS

Iniciaremos com o que diz na Constituição da República Rio-Grandense sobre a educação:
“A constituição também assegura e garante:
2 – A instrução primária, e gratuita a todos os cidadãos.
3 – Colégios, Academias e Universidades, aonde se ensinem as Ciências, Belas Letras e Artes”


O modelo de educação almejado pelos revolucionários, ainda que inspirados pelos mais nobres intentos republicanos, não deixava de ter caráter seletivo e elitista, como podemos ver pela gratuidade assegurada apenas para o ensino primário. Para a doutrina liberal do período isso não se apresenta totalmente estranho e, além disso, os grupos que levaram à cabo tal revolução eram as oligarquias detentoras de terras e meios de produção da época.

O Ministro de Estado dos Negócios do Interior, Fazenda e Justiça, Domingos José de Almeida, em agosto de 1838 enviou ofícios às câmaras municipais, que evidenciam a preocupação dos republicanos com a situação educacional rio-grandense:

“Convencido o Governo da República que só por meio da difusão das luzes e da moral é que podem prosperar e robustecer os Estados como este, baseados nos princípios representativos; e tomando em consequência por aquele motivo na mais séria consideração a educação e instrução da mocidade rio-grandense, inteiramente derrocadas em todos os pontos do Estado pelas vicissitudes de uma guerra de três anos qual a que sustentamos contra os opressores de nossa liberdade e independência; determina que V. Mcês., pondo em vigorosa ação o patriotismo e mais qualidades que o distinguem, façam instalar provisoriamente com a possível brevidade de tantas escolas de primeiras letras quantas forem as povoações ou lugares notáveis do seu município , provendo-as logo de mestres idôneos, morigerados e instruídos (...) igualmente lhes arbitrarão ordenados adequados, dando de tudo parte ao Governo por esta repartição para inteligência e assentamento no Tesouro”

Nestes trechos de cartas vemos o peso que os revolucionários colocavam na educação dos jovens para a formação moral da nação, para o estabelecimento de valores democráticos e republicanos: “V.S. é pai e além disso estou que perfeitamente conhece o quanto influe nos costumes das nações a instrução e educação da mocidade. A nossa se vê em total abandono, e se não reparamos de pronto esse mal certamente nossos vindouros lançarão em rosto esse crime”; “(...) porque todos estão persuadidos de que o Governo, apesar das peias que lhe põem os sucessos da guerra não omite diligências para estabelecer fundamentos verdadeiros do Republicanismo, que se escoram na ilustração e na moral; dando o exemplo na prática e na doutrina”; “(...) sem a difusão do ensino primário não podem germinar a agricultura, o comércio, as artes, as ciências, e o que é mais que tudo ainda – a Liberdade”.

Para os farroupilhas a verdadeira revolução significava mudança significava mudança da sociedade, que só seria conseguida através do desenvolvimento cultural do povo, por meio de uma autêntica educação republicana. Além disso o destinatário final dos sucessos da educação e do regime republicano é “o povo” (com a ressalva de que, como se sabe, nem todos os habitantes do Rio Grande do Sul fossem tidos como cidadãos plenos):

“A República é para nós uma absoluta necessidade. Porém nós sabemos mui bem que q multidão, a quem o instinto político revela, como o excelente entre os governos, o do Povo, não pode de um golpe, abranger toda sua vastidão, calcular todas as suas vantagens, e compreender todos os seus deveres. Para isso se necessita uma verdadeira educação Republicana, a qual somente um governo verdadeiramente Republicano pode dar, e deve ativamente promover.
Uma revolução feita em nome da Republica, importa alguma coisa mais que a mudança das formas governamentais. Os tempos exigem muito mais. Revolução, presentemente, é inovação em todas as molas sociais e seu objetivo supremo, essencial – O POVO – O Povo que necessita conhecer todos os seus direitos para sabê-los defender com nobreza, que necessita aprender quais são seus deveres çara sabê-los respeitar e cumprir.”

Com as palavras “Sendo do dever do Governo fomentar por todos os meios ao seu alcance o ensino primário da mocidade rio-grandense(...)” o mesmo Ministro Domingos José de Almeida faz nesta carta à Bento Manoel Ribeiro o que se observa em vários outros documentos: o Governo Republicano solicita, autoriza e exige medidas como pagamento de professores, compra de materiais escolares, cobrir aluguéis de salas e prédios destinados a aulas, indenização de gastos das administrações municipais com educação e instalação de comissões de investigação sobre as condições do sistema de ensino no Rio Grande do Sul. Segundo o Jornal O Povo, a quantidade de jovens freqüentando a escola nas cidades sob administração republicana era de 280 (Caçapava, São Gabriel, Piratini, Rio Pardo, Cachoeira, Sant’Ana da Boa Vista e São Borja), além das cidades em que os dados ainda não eram conhecidos (Alegrete, Itaqui, Santana do Livramento, Cruz Alta, Lages, Santa Maria da Boca do Monte, Encruzilhada, Bagé, Setembrina e Mostardas). Além disso, o governo republicano tomou medidas para a criação de um Gabinete de Leitura, que deveria ser o inicio de um Biblioteca Pública, “onde reunidas as obras do Estado existentes possam nossos Concidadãos consultar as matérias que lhes forem mister” (ofício enviado por Domingos José de Almeida ao coordenador da comissão de arrecadação das obras).

CONSIDERACÕES FINAIS

Embora as noções de educação, república e democracia tenham evoluído e mudado muito desde a Revolução Farroupilha, e não são a sua visão moralista e classista que está em questão (inclusive dado o contexto sócio-histórico no qual estavam inseridos). Temos, sim, que considerar a força e autenticidade de seus preceitos, quando tomam a educação como essencial para a construção de uma verdadeira Republica participativa.
Cercado de jovens Repúblicas que se consolidavam, a breve República Rio-Grandense almejou uma verdadeira independência dos velhos regimes imperiais, opressores, atrasados, a qual só viu-se realizada (e, ainda assim, por meios que excluíram boa parte dos agentes do país) meio século depois. Retornando aos autênticos intentos de independência dos territórios brasileiros, como o da Revolução Farroupilha, podemos perguntar-nos porque ainda não chegamos a tal vigor republicano. Os textos dos liberais revolucionários nos dão algumas pistas: a democracia não se trata simplesmente de um regime político, senão que diz respeito a uma cultura, cultura democrática, de participação, que só será plena no momento em que a população tiver acesso total aos conhecimentos, quando for dada a atenção suficiente ao sistema de ensino público.

REFERÊNCIAS CONSULTADAS

O POVO. Piratini, n. 32, 19 dez. 1838. Edição fac-similada da Livraria do Globo, 1930.
O POVO. Caçapava, n. 92, 14 ago. 1839. Edição fac-similada da Livraria do Globo, 1930.

SCHNEIDER, Regina Portella. Instrução Pública no Rio Grande do Sul 1770-1889. Porto Alegre: UFRGS, 1993.

ARQUIVO HISTÓRICO DO RIO GRANDE DO SUL, Anais. Porto Alegre, Vol. 1; 2; 3; 4; 5.


domingo, 21 de junho de 2009

Uniformização no Colégio Santa Dorotéia: uma breve análise histórica e cultural


Décadas de 50 e 60
Uniforme de gala/festas

Saia plissada - azul marinho
Camisa branca de piquê
Gravata de seda marinho - com emblema do colégio serigrafado
Meias ¾ branca
Boina branca
Sapatos pretos


Décadas de 50 e 60
Uniforme diário

Saia pregueada azul marinho
Camisa branca (na década de 60 passou a ser de poliéster)
Agasalhos - azul marinho
Gravata de tergal marinho sem estampa
Meias ¾ brancas e sapatos pretos
Boina marinho



Década de 70

Saia com 6 machos duplos
Cinto padrão madrepérola
Camisa branca de poliéster
Gravata de laço azul marinho – de gorgurão
Meias ¾ brancas e sapatos pretos


Décadas de 70 e 80
Uniforme da Educação Infantil

Jardineira azulão de tergal com o nome do aluno bordado ( no peito) em branco (p/ meninas saia e p/ meninos calça)
Camiseta branca meia malha com ribana marinho e inscrição do nome do colégio na parte frontal
Sapatos pretos e meias brancas


Década de 80

Camiseta branca de meia malha com ribana marinho e identificação do Colégio em semicírculo na parte da frente
Calça ou saia com dois machos em tergal marinho
Sapatos pretos e meias brancas



Décadas de 80 e 90

Abrigo de malha escolar marinho com frisos brancos no casaco e com iniciais do colégio bordadas em branco
Camisetas pólo branca com gola e punhos marinho – serigrafia com o nome do colégio a esquerda
Tênis preto e meias brancas




Década de 90

Abrigos de moletom marinho com detalhes em branco
Camiseta branca com logo do Colégio serigrafado
Bermudas em moleton marinho
Camiseta regata branca com logo do Colégio


Década de 2000

Camisetas brancas e azul marinho com logo da escola
Calça e bermuda de malha escolar azul marinho
Jaqueta tipo “canguru” azul marinho





O Colégio Santa Dorotéia de Porto Alegre faz parte das Comunidades Educativas fundadas e mantidas pelas Irmãs de Santa Dorotéia do Brasil, cuja fundadora é Santa Paula Frassinetti. A fundação da escola aconteceu no dia 24 de maio de 1957.
As Irmãs Dorotéias fundaram o então denominado Externato Santa Dorotéia; no bairro Cristo Redentor, que na época era zona em franco progresso, habitada por famílias de comerciantes e por operários das indústrias que compunham o cenário local.
Inicialmente, o Colégio funcionou na Avenida Assis Brasil, recebendo matrículas para o curso primário. Um ano mais tarde, a Escola mudou-se para a Rua Alberto Silva, no mesmo bairro, com prédio próprio para moradia das Irmãs e com pavilhão cedido pela Prefeitura de Porto Alegre para salas de aula do curso em funcionamento.
Em 1965 devido ao grande crescimento do número de matrículas foram sendo construídos novos prédios e neste mesmo ano foi obtida a aprovação para o funcionamento do curso ginasial que ampliou consideravelmente o corpo discente. Isto, em época de ditadura militar, foi possível devido à disciplina rígida que o colégio aplicava aos seus alunos.
Em 1974 foi autorizado o funcionamento do 2º grau com as habilitações de secretariado e auxiliar de contabilidade e na década de 80 houve a abertura do Curso de Magistério e a construção do Ginásio de Esportes Santa Paula Frassinetti.
O estudo que realizamos trata-se de uma análise sobre os uniformes utilizados no Colégio Santa Dorotéia no período de 1950 a 2000. Para realizar tal pesquisa coletamos imagens de ex-alunos e tivemos acesso ao acervo da escola.
Através dos registros fotográficos coletados podemos ver os diversos modelos utilizados pelos alunos no decorrer da história do Colégio, o que nos possibilita uma reflexão acerca de quanto a época influência a escolha dos estilos de uniforme e também de que modo a ideologia da escola, sua política, visão de formação são representadas pelos mesmos.
A partir da análise das fotos a que tivemos acesso é possível perceber que, no período entre 1950 e o início dos anos 80, se evidencia através das vestimentas uma representação do estereótipo feminino e masculino, onde toda a menina veste saia e o menino calça.
No final dos anos 80 já é possível observar uma mudança neste sentido, as calças já fazem parte do vestuário tanto feminino quanto masculino o que nos remete a relacionar tal fato com o contexto de uma época.
No texto Mulheres na sala de aula, Guacira Lopes Louro diz que nos anos 30:
“...Construía-se uma estética e uma ética. Uniformes sóbrios, avessos à moda, escondiam os corpos das jovens, tornando-os praticamente assexuados, e combinavam-se com a exigência de uma postura discreta e digna. O mesmo valia para as professoras: como modelos das estudantes, as mestras deveriam também se trajar de modo discreto e severo, manter maneiras recatadas e silenciar sobre sua vida pessoal.” (2000, p.461)

A partir disto podemos, em uma comparação entre as décadas de 30 e 60, verificar uma transformação deste pensamento sobre a necessidade de cobrir/esconder o corpo, visto que as saias passam a deixar a mostra maior parte da perna.
Pelas imagens que vemos do final da década de 1980 a utilização de um uniforme padrão (mesmo estilo de roupa para meninos e meninas) demonstra mais uma necessidade de representação do caráter da instituição do que de uma preocupação com os corpos. Fica evidente que o Colégio busca uma padronização como forma de demonstrar o que representa, transmitindo aos seus alunos a responsabilidade de carregar sua identidade.
Guacira Lopes Louro (1999, p.19) fala sobre isso:

“Talvez se esperasse que nós fôssemos, também, uma espécie de estudante ‘padrão’. Lembro-me de ouvir, sempre, a mensagem de que, vestidas com o uniforme da escola, nós ‘éramos a escola’! Isso implicava a obrigação de manter um comportamento ‘adequado’, respeitoso e apropriado, em qualquer lugar, a qualquer momento.”

O uso de uniformes transparece a identidade de uma instituição, mais do que isso, faz com que o aluno deixe de representar a si mesmo para representar a instituição em que estuda. Por exemplo, se um grupo de jovens é visto bebendo na rua, é só um grupo de jovens se divertindo, mas se estiverem uniformizados, são os alunos de determinado colégio que estavam bebendo.
O uniforme tira o caráter individual de cada aluno, o que ocasiona uma busca por incorporar a essa vestimenta uma marca pessoal. Guacira Louro (1999, p.19 e 20) relata:
“O uniforme – saia azul pregueada e blusa branca com um laço azul-marinho – era, ao mesmo tempo, cobiçado por ser distintivo da instituição e desvirtuado por pequenas transgressões. A saia, mantida num comprimento ‘decente’ no interior da escola, era suspendida ao sair dali, enrolada na cintura de forma a conseguir um estilo ‘mini’, mais condizente com a moda; o laço descia (do botão mais alto da blusa rente à gola onde deveria estar) alguns centímetros, de forma a proporcionar um decote mais atraente (o número de botões dependia da ousadia de cada uma). Essas subversões, quando descobertas por alguma funcionária ou professora da escola em qualquer lugar da cidade, eram alvo de repreensões individuais ou coletivas, particulares ou comunicadas aos pais e mães e etc. (O olhar panóptico ia muito além das fronteiras do prédio escolar!) A preocupação com o uniforme, defendida pela escola como uma forma de democratizar os trajes de suas estudantes e poupar gastos com roupas, era reiterada cotidianamente, com implicações que transitavam pelos terrenos da higiene, da estética e da moral. Adolescentes, estávamos cada vez mais conscientes de que podíamos inscrever em nossos corpos indicações do tipo de mulher que éramos ou desejávamos ser.”

Apesar de submetidos ao uso obrigatório do uniforme, a maioria dos alunos tenta introduzir alguma marca pessoal que possa afirmar ‘este sou eu’.


Grupo responsável:

Amanda Alvernoz Acosta
Marla Ferreira da Silva
Paula Carina Kinast

Data: 22/06/09 Turma: A Professora: Simone Valdete

Referências bibliográficas

LOURO, Guacira Lopes Louro. Mulheres na sala de aula. In: DEL PRIORE, Mary. História das mulheres no Brasil. 7ª ed. São Paulo: Contexto, 2004.

LOURO, Guacira Lopes Louro. Pedagogias da sexualidade. In: O corpo educado. Belo Horizonte: Autentica, 1999.